domingo, 21 de novembro de 2010

O melhor amigo do relógio

Sinceramente não lembro quando tudo começou mas no inicio não entendia direito porque quando passava algumas pessoas irradiavam-se, outras escondiam a dor no fundo dos olhos e outras ainda ficavam imóveis ignorando tudo, inclusive a mim. Abri e fechei cicatrizes que pareciam incuráveis, vi ganhos, vi perdas, abri sorrisos que me faziam sorrir, deixei olhos molhados transbordando tristeza, vi o sol aquecer cada rosto desconhecido, outras a chuva caindo de mansinho sem pedir. Só eu sei a bagagem que levo, às vezes tento facilitar indo devagar, mas nunca deu certo, sou impaciente e para muitos até grosseiro. Não tenho nada contra ninguém e nunca vou ter, constantemente ouço insultos e elogios, mas isso faz parte da vida, e comigo não poderia ser diferente. Sou o melhor amigo do relógio e a razão pela qual os ponteiros existem, sou o tempo passando você querendo ou não, sendo frio quando necessário sem pensar em ninguém, sendo solidário apenas quando me permitem, mas na maior parte faço apenas aquilo que sei fazer: ajudar a vida a seguir em frente.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

O céu mais bonito


Há muito tempo atrás, quando o mundo não era mundo, nasceu uma pequena estrela para fazer companhia ao céu, que ficava sozinho na escuridão quando o sol já cansado ia repousar. Mas a estrelinha era tão pequena e fosca, que o céu mal conseguia enxergá-la. Aos poucos o céu foi ajudando a pequena estrela a entender o universo, ouvia seus medos, dividiam frustrações e logo dava uma solução junto com um sorriso mostrando que tudo ia ficar bem, que ele sempre estaria ali a protegendo. Com passar do tempo a estrela foi se tornando cada vez maior e com mais brilho, o céu se sentia feliz por ver que sua paciência e dedicação, havia dado uma recompensa que não tinha preço: o brilho de uma estrela. A estrela então, mais confiante contou a céu de como se sentia, de como ficava segura sabendo que por mais fosca e pequena que fosse, o seu céu não se importava, mesmo sem ao menos enxergá-la a protegia, sem esperar nada em troca. O céu sereno, respondeu que vivia assim, sem esperar nada em troca e desse jeito conquisto tudo queria: uma amiga que o deixa iluminado em cada noite que antes era tão vazia e tristonha. A estrela sem jeito disse que era grata por tudo, e mesmo se houvesse outro céu, sempre seria a sua estrela, seria a sua estrela mil vezes se fosse preciso, pois toda estrela precisa de um céu para brilhar e a pequena grande estrela teve a sorte de ter o céu mais bonito.



Dedicado a Anderson Dias Holtz, o céu que me fez estrela.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Barco sem Remos

Então vamos, me dê o ultimo beijo, o ultimo abraço, está na hora, preciso embora. Não, não chore quando souber que não irei voltar. Não tente me ligar, me procurar, não tem mais motivos para isso e você não pode me dar razões para continuar. Não guarde minhas cartas, lave suas roupas, porque sei que elas ainda estão com meu cheiro, não me peça mais explicações, falar por falar não adianta mais. Me decidi e dessa vez não tem mais volta, esqueça tudo, me esqueça, eu vou tentar fazer o mesmo, não podemos continuar nesse barco, onde não há mais remos e nenhum dos dois sabe nadar. Tenho que ir, levo comigo apenas as lembranças de um amor que quase deu certo, que quase foi para a vida inteira, mas que no fim foi igual a todos os outros. Desculpe por ser assim, tão rápido, mas se foi assim que tudo começou, vai ser assim que tudo vai terminar. Não pense que está sendo fácil pra mim, mas é assim que devemos seguir, a vida é uma questão de escolhas e eu escolho te deixar livre para que alguém te faça sentir em um dia, o que você não me fez sentir até hoje.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Asas Escondidas

Em um lugar distante, morava uma menininha de cabelo longos e castanhos que não acreditava em anjos de maneira nenhuma, enquanto sentava no muro na frente da sua casa, reparava nas árvores, no modo como algumas podiam quase tocar o céu e pensava sozinha: 

Como alguém pode viver apenas para me proteger? Para me guiar? Para me fazer acreditar que o impossível não existe?

Ninguém pode querer se importar tanto assim com alguém.

Um dia então enquanto brincava distraída pela frente de casa, um homem nem tão alto, nem tão baixo, com o sorriso mais bonito que já viu na sua vida, se aproximou e desde então não saiu mais de perto da menininha que se deslumbrou após vê-lo com um olhar tão simples e sincero. Com ajuda do homem ela conseguiu escalar as árvores grandes e quando chegava no topo não sentia mais medo de cair, esticava os braços e acreditava que havia conseguido tocar um pedaço do céu, aprendeu a dormir no escuro porque sabia que ele estava lá protegendo-a dos monstros, afastando seus pesadelos, passou acreditar em si mesma e que seus sonhos podiam ser realizados, bastava acreditar. 


As folhas das árvores haviam secado, caído e depois crescido mais verdes e assim seguiu por muito tempo, enquanto o homem de sorriso bonito a guiou, porém ele não podia a guiar para sempre, a menininha já teria aprendido tudo que precisava para seguir sozinha, mas sabia que seria doloroso seguir sem o olhar simples e sincero do homem.


Então o homem confessou um segredo a menininha, disse que era um anjo, o seu anjo, a menina não se surpreendeu respondeu tranquila que sabia, que só mesmo um anjo podia ajuda-la a tocar o céu. O que a deixava-a triste é que também sabia que ele teria que partir, pois os anjos são assim, nós fazem acreditar neles, em nós e no impossível, depois é a nossa vez de manter isso. O homem-anjo sorriu por ver que a menininha teria aprendido mais do que ele havia ensinado, lhe deu um abraço e não teve nenhum adeus, pois ele ainda olharia por ela onde quer que ela fosse, enfim deu seu par de asas que havia escondido, agora era a vez da menininha voar.

Sorriso sem graça

Hoje a noite quando te encontrei, não tive medo de falar, tudo que eu sempre quis te dizer, você estranhou mas logo entendeu que foi só para te deixar sem graça, pra você sorrir do jeito que eu gosto. Contei meus segredos, ouvi teus segredos, prometi guardar todos como guardo os meus, você me abraçou e eu não senti mais nenhum medo, mas tive você vontade de fazer você perder os seus. Em silêncio ao teu lado, senti o cheiro do mar que estava calmo e seguro assim como você, olhei para o céu e descobri que nem as estrelas tem esse brilho que só vejo em você. Me perdi te olhando, me perdi te amando, ouvi você reclamar de algo sem sentido, ri contigo de alguma bobagem, das tuas bobagens, senti o gosto do teu beijo, do nosso beijo, te disse baixinho te amo, você respondeu sorrindo, não senti pressa de desviar o olhar dos teus olhos, poderia passar uma noite assim sem me cansar, você se levantou decidindo me levar até em casa, senti tuas mãos procurarem as minhas, senti alegria somente por estarmos de mãos dadas. Enquanto nós caminhávamos o tempo parecia ter desaparecido, os outros não existiam. Eu só conseguia enxergar você e era a melhor visão que eu poderia querer. Quando chegamos, não quis te deixar ir embora, como nunca quis que fosse, deitei no teu colo, dormi sem me preocupar em sonhar porque o melhor sonho eu já estava vivendo: você.

Manhã cansada


Rodrigo acordou cansado, mais do que na manhã passada onde o dia teria sido aparentemente normal, talvez até demais. Além de uma pequena dor nas costas, algo o incomodava, no fundo sabia que era apenas o vazio que a sua vida havia se tornado depois que Ana teria o deixado, esquecendo algumas de suas coisas que agora lhe faziam companhia. Mentia para si mesmo que a vida continuava e o passado seria enterrado junto com aquela carta que ela deixou.


“Se eu e você pudéssemos voltar a ser nós, eu te faria feliz! feliz como ninguém pode te fazer, mas tenho me sentido sozinha ao teu lado e assim não posso continuar. Espero então, que você fique bem da melhor forma possível, mas que em nenhum momento esqueça de tudo que passamos e tudo que um dia eu fui em sua vida."

- maldita carta – esbravejou após ler mais uma vez enquanto tomava café numa xícara branca com detalhes azuis.

Eu só queria saber como ela consegue me fazer pensar que tenho toda a culpa? Me fazer repensar mil coisas, me sentir um lixo e ainda me faz quere-la mais ainda por isso? O amor é uma adorável palhaçada. Repetia baixinho para si mesmo enquanto pegava o telefone, na esperança de ouvir a voz de Ana e voltar a preencher a outra caneca de café que era dela.